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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

RUI COSTA

Rui Costa - A importância de ser Maestro

No final da época passada, Rui Costa retirou-se do futebol profissional. A despedida aconteceu perante um Estádio da Luz em apoteose, com os adeptos a aplaudirem de pé o homem a quem em Itália chamaram "Il Maestro". Com este simples acontecimento, fica bem ilustrada a importância de Rui Costa para o futebol português e internacional.De facto, poucos jogadores terá havido a quem o número dez assentasse tão bem. Não fosse por Zidane, Ronaldinho ou Maradona, quase poderíamos dizer que este algarismo mágico do futebol tinha sido inventado de propósito para o médio português. De igual modo, poucos jogadores terá havido tão simbióticos com termos como "municiador de jogo", "médio criativo" ou "apoio ao ataque". Dos pés de Rui Costa, não era futebol que saía - era magia. Não tão exuberante quanto a de um qualquer extremo, antes medida com régua e esquadro, mas tão ou mais importante para o sucesso da equipa do que os rasgos individuais de um tecnicista.E pensar que, em tempos, este jogador fez parte da lista de dispensas do Benfica! Corria então o ano de 1990, e Rui Manuel César Costa, jovem de apenas 18 anos nascido na Amadora, enfrentava a concorrência de inúmeros jogadores da mesma posição. Por esse mesmo motivo, foi cedido ao Fafe, por empréstimo. Passaria uma época no Norte, a jogar na II Divisão, antes de um seleccionador nacional apostar nele e mudar a sua vida...

Primórdios

Nascido a 29 de Março de 1972, Rui Costa deu os primeiros pontapés na bola como jogador de futsal. Contava então apenas seis anos, e a razão do seu aparecimento na equipa do Ginásio da Damaia prendia-se essencialmente com o facto de o treinador ser o seu pai. No entanto, o pequenino Rui depressa fez esquecer a "cunha", dando mostras de talento pouco comum para tão tenra idade. Com o passar dos anos, o jovem foi aspirando a mais altos vôos e, prestes a completar 10 anos, viu a sua janela de oportunidade.Por esta altura, o Benfica realizava treinos de captação para as suas escolas. Rui Costa decide tentar a sorte no seu clube do coração, e apresenta-se às captações, presididas pela figura-mor do clube da Luz, o lendário Eusébio. E é precisamente Eusébio quem, cativado pelos dotes do jovem "artista", lhe oferece o passaporte de entrada nas escolas do clube encarnado. No total, o jovem médio precisou de apenas 10 minutos para convencer o seu ídolo a dar-lhe uma oportunidade.Assim, com apenas 10 anos, Rui Costa passa a jogar de águia ao peito. Durante os oito anos seguintes, percorre os escalões de formação do clube da Luz, até que em 1990 se vê com idade sénior, e sem sítio para onde ir. Aceita então a proposta de empréstimo ao Associação Desportiva de Fafe, um clube que considera "humilde" mas onde afiança que lhe "foi possível trabalhar bem, com pessoas que me ensinaram muito", conforme declarou em 2007 ao jornal "A Bola".E de facto, a ida para Fafe seria muito mais importante para a carreira de Rui Costa do que ele alguma vez poderia ter imaginado. No fim de uma boa época ao serviço dos nortenhos, Carlos Queirós, campeão do Mundo de sub-20 em 1989, chama-o para o grupo de trabalho que se formara com vista ao Mundial de 1991. Aqui, Rui Costa convive pela primeira vez com jovens como Luís Figo, Fernando Couto, Jorge Costa ou João Vieira Pinto, com quem mais tarde viria a fazer história futebolística.

Salto para a ribalta
Jogando então com um número bem distante do seu mágico 10 - concretamente, o 5 - o médio rapidamente assegura a titularidade na equipa das Quinas. Durante o Mundial, realiza todos os jogos, excepção feita à vitória frente à Coreia do Sul onde, por já estar tudo decidido, Queirós fez rotação de plantel (prática, aliás, muito utilizada hoje em dia). Ao longo da campanha, marca apenas dois golos, mas os dois, curiosamente, de importância crucial. Primeiro, dispara uma "bomba" teleguiada à baliza australiana, na meia final, ajudando a dar a vitória portuguesa no jogo mais difícil da prova. Depois, põe o Estádio da Luz em delírio quando, no desempate a penalties frente ao Brasil, acerta um pontapé certeiro e dá o bi-campeonato a Portugal. Estávamos a 14 de Março de 1991, e nascia um novo herói, precisamente na casa que o vira "nascer" para a bola.Essa mesma casa viria, no final da época, a acolhê-lo de volta, apercebendo-se do "diamante" que ali havia para lapidar. Logo no início dessa época, o jogador obtém a sua estreia, num empate a duas bolas frente ao Estoril. Deixa no ar uns pózinhos de magia que já haviam estado no Mundial, e que não passam despercebidos a ninguém. Rui Costa "atropela" a concorrência e começa a ser utilizado com regularidade na equipa do Benfica. Em Outubro de 1991, obtém a sua estreia nas competições europeias, e em Novembro o seu primeiro golo no campeonato (em jogo frente ao Famalicão, que o Benfica vence por 2-1). Faltava apenas um golo internacional, mas esse teria ainda que esperar dois anos, sendo marcado apenas a 20 de Novembro de 1993, frente ao CSKA Sófia (3-1).Por essa altura, já Rui Costa era jogador mais que afirmado na equipa benfiquista. Ainda não era "maestro", mas já se destacava pelo seu fino toque de bola e recorte técnico, bem como pelo seu estilo de jogo altruísta e utilitário. Estas eram características que raramente surgiam combinadas num mesmo jogador, e talvez por isso Rui Costa se tenha feito tão notado.De facto, após duas grandes épocas no Benfica (conquistando a Taça de Portugal em 1993 e o título de campeão nacional em 1994), o médio atrai a atenção da Fiorentina, clube italiano que então ainda militava na Primeira Divisão. Por 1,2 milhões de contos o negócio estava feito, e Rui Costa rumava a Itália, naquela que foi a transferência mais cara desse ano. Pelo caminho ficava o Barcelona de Cruyff, que também desejara o jogador, e na frente de Rui Costa começava a desenhar-se um futuro brilhante...

Academia de Talentos

Texto: Pedro Benoliel